Você já ouvir falar no nome Eufrásia Teixeira Leite? Ela é ninguém menos que uma das primeiras mulheres do mundo a investir na bolsa de valores – a primeira brasileira! Isso aconteceu ali na virada do século XIX para século XX, quando mulheres ainda não tinham muitos direitos e inclusive no Brasil elas não podiam nem votar. Eufrásia se destacou não só pelo pioneirismo no mundo dos investimentos, mas também por todo seu trabalho como filantropa.
Mas deixa eu te contar essa história desde o começo. Eufrásia Teixeira Leite nasceu em uma cidade do interior do Rio de Janeiro chamada Vassouras, em 1850. Ela nasceu em uma rica e tradicional família de empresários do setor cafeeiros, por parte de pai, e de aristocratas, por parte de mãe. No entanto, quando tinha 23 anos, a jovem ficou órfã e decidiu embarcar com sua irmã rumo a Paris, onde tinham família.
Foi na França que ela teve seu primeiro contato com o mundo dos investimentos, pois passou a acompanhar seu tio, que investia nos pregões da bolsa de valores da capital. Eufrásia já tinha interesse por esse mundo, afinal, esse era um assunto comum entre seus familiares e em jantares sociais. Ela já entendia de matemática financeira, falava quatro línguas – português, inglês, francês e alemão – e passou a estudar diariamente o mercado financeiro estudando livros, jornais e documentos de seu pai.
Em 1876, três anos após se tornar órfã, Eufrásia Teixeira começou a investir a herança que recebeu. Naquela época, as mulheres eram recomendadas a investirem apenas em títulos de renda fixa, deixando o mercado de ações para os homens, já que esse tipo de investimento exigia rapidez e controle emocional, características que os homens da época não pertenciam a uma mulher.
Mas Eufrásia era uma mulher a frente do tempo e quebrou barreiras. Em 1880 ela passou a operar na bolsa de valores de Londres e em 1914 na de Nova York. Ela inclusive chegou a fazer negócio com 17 países diferentes e em nove moedas diferentes! Tudo isso, aprendendo sozinha sobre câmbio. Foi assim que ela se tornou, no final do século XIX, uma das 120 personalidades milionárias de Paris, ao acumular mais de 1 milhão de francos franceses.
Aqui no Brasil, ela foi acionista de grandes empresas como a Companhia Antarctica Brasil, que hoje faz parte da Ambev. Ela também investiu no setor têxtil, ferroviário e em bancos, como Banco do Brasil e Banco Mercantil do Rio de Janeiro.
Além de todo seu importante papel para as mulheres no mercado financeiro, Eufrásia Teixeira Leite fez grandes trabalhos como filantropa, atuando em questões públicas e urbanas, sendo um dos trabalhos mais notáveis a ressocialização de soldados que lutaram na 1ª Guerra Mundial.
Eufrásia retornou definitivamente para o Brasil em 1928 e morreu em 1930, aos 80 anos, no Rio de Janeiro. Em seu testamento, Eufrásia mostrou mais uma vez o seu lado filantropo: ela determinou que parte de sua fortuna fosse direcionada para a construção de um hospital e uma escola em sua cidade natal. Um dos pedidos da primeira investidora brasileira era de que 50 crianças dessa escola fossem sustentadas e apoiadas, independente de cor ou classe.
Outra parte da fortuna foi usada na compra de títulos do Tesouro do governo, para que seu dinheiro continuasse rendendo e fosse possível manter diversas instituições ativas como Hospital Teixeira Leite, o Colégio Regina Coeli, o Senai e o Fórum. Outra parte, ela deixou para pessoas em situação de rua.
Ainda no testamento, Eufrásia pediu para “conservar a Chácara da Hera com tudo que nela existisse no mesmo estado de conservação, não podendo ocupar ou permitir que fosse ocupada por outros”. Hoje, o local funciona como museu e é patrimônio histórico da cidade de Vassouras.